"Os profissionais habilitados vão saber se realmente a pessoa estĂĄ com transtorno bipolar. Digo isso porque muitas pessoas procuram diagnóstico informal, em fontes como o Google, e isso pode ser perigoso, fazendo com que ela fique cada vez mais ansiosa e alerta em relação ao seu problema", disse ele.
Essa condição causa mudanças extremas de humor, que podem variar de perĂodos de euforia e hiperatividade a outros de depressão profunda. Pesquisa feita pelo Instituto Nacional de SaĂșde Mental dos Estados Unidos verificou que pessoas diagnosticadas com transtorno bipolar tĂȘm expectativa de vida reduzida em até nove anos, comparadas com a população em geral. Segundo revelou também o estudo, a taxa de suicĂdio entre indivĂduos com transtorno bipolar é cerca de 20 vezes maior do que na população em geral.
Denis Coelho informou que o tratamento para pacientes com o transtorno envolve psicoterapia, medicamentos ou os dois combinados. Explicou que dentro do espectro do transtorno bipolar existem depressões ciclotĂmicas que dificultam o diagnóstico. DaĂ não se ter a noção precisa de quantos pacientes existem com essa condição no Brasil, embora o paĂs esteja entre os que apresentam maiores Ăndices de ansiedade e de esgotamento fĂsico e mental no trabalho.
Além de medicamentos e psicoterapia, a pessoa deve incluir no tratamento mudanças no estilo de vida, como praticar exercĂcios fĂsicos, ter dieta equilibrada e evitar o consumo de ĂĄlcool e drogas. "Eu sempre digo para os meus pacientes que o tratamento tem aspectos biológico, mental, social e espiritual. Biológico, porque envolve cuidar do seu corpo de forma integral, com exercĂcios fĂsicos e boa alimentação; mental, sempre com bons pensamentos e tentando ter bons sentimentos; social, buscando manter bons relacionamentos, que não sejam abusivos ou tóxicos; e espiritual, no sentido de a pessoa acreditar em algo que possa, realmente, levĂĄ-la a sair de uma situação "xis" para uma condição melhor". Destacou que esses elementos vão interferir positivamente no tratamento, na medida em que diminuem a sensação de estresse e ansiedade e alterações de humor, aumentando a sensação de prazer.
Segundo o Ministério da SaĂșde, o diagnóstico de transtorno bipolar costuma ser difĂcil e pode demorar, em média, dez anos para ser estabelecido devido a "tratamentos equivocados, ausĂȘncia de comunicação entre os profissionais envolvidos, desconhecimento sobre como a doença se manifesta, tanto por ser pouco conhecida quanto pela confusão dos seus sintomas com os de outros tipos de depressão, além de preconceito e autoestigmatização". O ministério indica que o histórico do indivĂduo pode contribuir para o diagnóstico conclusivo, jĂĄ que alterações de humor anteriores, episódios atuais ou passados de depressão, histórico familiar de perturbação do humor ou suicĂdio e ausĂȘncia de resposta ao tratamento com antidepressivos sinalizam transtorno bipolar.
Comportamentos repetitivos e exagerados acendem o alerta para o transtorno bipolar. "Quando o indivĂduo começa a perceber que a sua vida não estĂĄ ocorrendo da forma mais saudĂĄvel como ele gostaria de estar. Ou seja, quando estĂĄ tendo prejuĂzo na funcionalidade da vida, na forma de produzir, de se relacionar com os amigos, com a famĂlia. Quando o próprio sujeito é a primeira pessoa a sentir que algo não estĂĄ funcionando bem", afirmou o psicólogo.
Coelho esclareceu que as variações extremas, como manias, exaltação, comportamentos de compulsão, estão entre os sintomas desse tipo de transtorno: "a pessoa ficar horas, ou mesmo dias, acordado; fazer compras compulsivas; ter compulsão por alimentação ou por prĂĄtica sexual. Qualquer hĂĄbito ou comportamento que venha caracterizar exagero ou compulsão".
Outro polo é a depressão, quando a pessoa tem queda de humor, de produtividade. "Quando esses estados estão em desequilĂbrio e mostram momentos de pico exagerados, sejam de euforia ou depressão, constituem forte sinal de que a pessoa deve buscar ajuda, ou seja, quando esses polos são muito dĂspares, as diferenças são muito claras e ocorrem em perĂodos sucessivos. Geralmente é assim. O paciente vive experiĂȘncia de euforia muito forte e depois vem a queda, com depressão".
O Ministério da SaĂșde destaca que transtorno bipolar não tem cura, mas pode ser controlado. A adesão ao tratamento pode trazer importantes resultados, entre os quais redução das chances de recorrĂȘncia de crises; controle da evolução do transtorno; diminuição das chances de suicĂdio; redução da intensidade de eventuais episódios; e promoção de uma vida mais saudĂĄvel.
Denis Coelho chamou a atenção também para a necessidade de a sociedade entender que o transtorno bipolar é uma condição médica real, que requer tratamento para ajudar no controle dos sintomas e melhorar a qualidade de vida.
Fonte: AgĂȘncia Brasil