Entre as principais propostas estĂĄ a criação de faculdades federais, que são instituições voltadas exclusivamente para o ensino, mirando na formação de profissionais qualificados a um custo menor por aluno, de forma a expandir o acesso de estudantes ao ensino superior pĂșblico.
Atualmente, as universidades federais dedicam-se também à pesquisa e à extensão, que é a interação com a sociedade, em projetos voltados para melhorias sociais. A proposta seriam instituições pĂșblicas focadas exclusivamente em formar estudantes no ensino superior. A ideia é facilitar a abertura de vagas que se adaptem às demandas atuais dos estudantes, como maior flexibilidade e acesso ao ensino noturno, por exemplo.
No Brasil, de acordo com o relatório, apenas 22% da população entre 25 e 34 anos tĂȘm diploma universitĂĄrio. Esse percentual estĂĄ abaixo da média dos paĂses da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é 47%. Além disso, 79% das matrĂculas estão concentradas no setor privado.
"Isso é um nĂșmero muito pequeno, se a gente pensa em um paĂs que precisa se desenvolver com rapidez", diz o professor do Instituto de FĂsica da UFRJ Rodrigo Capaz, membro titular da ABC, que fez parte do grupo de trabalho (GT).
Sobre as faculdades federais, ele explica: "Quando a gente olha experiĂȘncias ao redor do mundo, a gente ver que em nenhum paĂs do mundo a massificação ou a democratização do ensino superior ocorreu através das universidades de pesquisa. Porque apesar de elas serem enfim altamente qualificadas para realizar pesquisa, elas acabam tendo um gasto por aluno que é maior do que outro tipo de instituição que seria dedicada apenas ao ensino".
Além das faculdades federais, o documento também propõe a criação de Centros de Formação em Áreas Estratégicas (CFAEs) nas universidades pĂșblicas. Eles seriam voltados para seis campos: bioeconomia; agricultura e agronegócio; transição energética; saĂșde e bem-estar; transformação digital e inteligĂȘncia artificial; e materiais avançados e tecnologias quânticas. Esses centros atuariam de forma interdisciplinar, promovendo a criação de soluções aplicĂĄveis e o desenvolvimento de novas tecnologias para essas ĂĄreas estratégicas.
O relatório propõe ainda a ampliação e qualificação da oferta de cursos pĂșblicos na modalidade EaD, destinados àqueles que precisam de flexibilidade.
A EaD teve um forte crescimento nos Ășltimos anos. Entre 2011 e 2021, o nĂșmero de estudantes em cursos superiores de graduação, na modalidade de educação a distância (EaD), aumentou 474%. No mesmo perĂodo, a quantidade de estudantes que ingressaram em cursos presenciais diminuiu 23,4%. Em 2022, 81% dos alunos ingressantes em cursos de licenciatura em 2022, se matricularam na modalidade de ensino a distância.
Essa expansão, no entanto, acendeu um alerta para a necessidade de se garantir a qualidade na oferta desses cursos. Por isso, o Ministério da Educação (MEC) suspendeu até 2025 a criação de novas vagas em EaD, para que seja feita uma revisão do marco regulatório desses cursos.
Atualmente, as vagas em EaD são majoritariamente mantidas pelo setor privado, 71,7%, contra 12,9% no setor pĂșblico. A proposta é que as instituições federais expandam a oferta dessa modalidade.
"A gente não pode negar que o ensino à distância é uma demanda real, e eu acho que irreversĂvel, da sociedade moderna. Óbvio que nem todos os cursos vão ser EaD e não é isso que a gente propõe, mas que a gente possa usar esse instrumento, que é um instrumento poderoso de expansão do ensino, que possibilita, por exemplo, que os alunos em localidade de difĂcil acesso sejam atendidos ou alunos um pouco disponibilidade de horĂĄrio que precisam de flexibilizar o seu horĂĄrio", defende, Capaz.
Segundo Capaz, o trabalho do grupo pretende também valorizar o ensino superior e ampliar o acesso a ele pela população brasileira. "Existe ainda muito espaço e necessidades para a gente aumentar a fração de brasileiros com ensino superior. E isso é que em Ășltima anĂĄlise vai levar ao desenvolvimento do paĂs", diz.
O relatório é apresentado em um contexto de corte de gastos do governo federal. Mesmo assim, para a presidente da Academia Brasileira de CiĂȘncias e também uma das integrantes do GT, Helena Nader, a educação deve ser priorizada.
"Educação, na nossa visão da Academia, deveria ser uma prioridade do Estado brasileiro. Sem educação não vai haver economia estĂĄvel e não vai haver justiça social. Sabemos dos cortes, mas o paĂs precisa de mais pessoal qualificado profissionalmente, inclusive frente a essas mudanças que vĂȘm em função da inteligĂȘncia artificial", afirma.
Fonte: AgĂȘncia Brasil